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Restaurando o Altar “ao Deus Desconhecido”

E, estando Paulo no meio do Areópago, disse: Homens atenienses, em tudo vos vejo um tanto supersticiosos; Porque, passando eu e vendo os vossos santuários, achei também um altar em que estava escrito: AO DEUS DESCONHECIDO. Esse, pois, que vós honrais, não o conhecendo, é o que eu vos anuncio. O Deus que fez o mundo e tudo que nele há, sendo Senhor do céu e da terra, não habita em templos feitos por mãos de homens; Atos 17:22-24;

Introdução

Agradeço, primeiramente a Deus, e ao nosso irmão Presbítero Cláudio Marcos da Silva, da Primeira Igreja Unida de Guaianases, pelo privilégio concedido de falar sobre o tema “Restaurando o Altar”.

Ao meditar sobre o tema inicial, confesso que, quase que imediatamente, me veio à mente esse texto de Atos dos Apóstolos, onde registra a passagem do apóstolo Paulo em Atenas, ocasião em que ele pregou no Areópago, sobre o Altar “ao Deus Desconhecido”. Por este motivo, estreitamos o tema para “Restaurando o Altar ‘ao Deus Desconhecido’”.

Visando o melhor entendimento, iniciaremos recorrendo resumidamente ao contexto histórico de como esse altar dedicado “AO DEUS DESCONHECIDO” foi construído na cidade mais idólatra de sua época.

A cidade de Atenas

A cidade de Atenas, no período da Grécia Antiga, era um poderoso centro de atividades culturais e artísticas, comerciais e econômicas, arquitetônicas e turísticas, filosóficas e religiosas. Ela possuía o maior Porto de passageiros da Europa, chamado Pireu, que facilitava o trânsito de pessoas e, em última análise, a absorção de muitas culturas e crenças.

Dizem os registros antigos que havia na cidade mais deuses do que habitantes, algo em torno de 30 mil divindades, e, cada uma delas, tinha pelo menos um altar. Assim, havia altares espalhados por todos os lugares na cidade.

Mas, qual é a história que envolve o altar AO DEUS DESCONHECIDO, que Paulo observou na sua visita missionária? Vamos ver a seguir.

Uma praga assolou Atenas

Em uma época, durante e sexto século antes de Cristo, uma praga assolou muitos moradores da cidade de Atenas. Alguns acreditam que tratou-se de uma epidemia de febre tifoide[1]. Independente de qual praga fosse, a solução dos atenienses era oferecer sacrifícios aos seus deuses, por isso, foram chamados sacerdotes de várias partes (inclusive egípcios e babilônicos) para tentar resolver aquela praga.

Sem sucesso algum, um conselho formado na Colina de Marte[2] passou a discutir uma solução final. Ali, tomaram conhecimento que uma sacerdotisa havia proferido um oráculo afirmando que “restava um Deus a ser apaziguado”. Ocorre que os atenienses não sabiam qual dos Deuses seria, pois, todos os Deuses conhecidos já haviam recebido oferendas.

Epimênides, Um profeta de Creta

Um dos membros daquele conselho, chamado Nícias, sugeriu que trouxessem de Creta um homem chamado Epimênides (mais tarde citado por Paulo, em Tito 1:12). Epimênides era considerado "homem estranho" pelo seu povo, por ser um dos poucos, da sua época e região, que cria em apenas um Deus. Quando Epimênides chegou de Creta, disse aos anciãos do Conselho da Colina de Marte:

Sábios anciãos, muitos sacrifícios a numerosos Deuses já foram oferecidos, porém, tudo se mostrou inútil. Vou, agora, oferecer sacrifícios baseados em três suposições bem diferentes das suas:

  1. Suponho que exista um Deus, cujo nome não conhecemos, e que não está sendo representado por qualquer ídolo desta cidade;
  2. Vou supor também que é um Deus bastante poderoso, o suficientemente grande e bondoso para fazer algo a respeito desta praga;
  3. Qualquer Deus suficientemente grande e bondoso para fazer algo a respeito da praga é também poderoso e misericordioso para nos favorecer em nossa ignorância – se reconhecermos a mesma e o invocarmos;

Assim, Epimênides lhes propôs separar algumas ovelhas saudáveis, porém, famintas, para que fossem soltas no campo e pastassem. Ao soltarem essas ovelhas, elas começaram a comer a relva suculenta. Epimênides, então, fez a seguinte oração:

“Óh tu, Deus desconhecido! Contempla a praga que aflige esta cidade! E se de fato tens compaixão para perdoar-nos e ajudar-nos, observa este rebanho de ovelhas! Revela tua disposição para responder, eu peço, fazendo com que qualquer ovelha que te agrade, deite na relva em vez de pastar. Escolha as brancas se elas te agradarem; as pretas se te causarem prazer. As que escolheres serão sacrificadas a ti – reconhecendo nossa lamentável ignorância do teu nome!”.

Minutos depois da oração, algumas ovelhas famintas, simplesmente pararam de pastar e deitaram-se sobre a grama. Epimênides, então, mandou que, no lugar aonde cada ovelha deitou-se, os pedreiros deveriam edificar altares para fazer o sacrifício dessas ovelhas. Quando os atenienses lhes perguntaram a qual “Deus” deveriam atribuir esses altares, ele sugeriu

“A divindade, cuja ajuda buscamos, agradou-se de responder à nossa admissão de ignorância. Se agora pretendemos mostrar conhecimento, quando, na verdade, não temos a menor ideia a respeito dele, tempo que possamos ofendê-la”. Assim, simplesmente escreveram “Ao Deus desconhecido”.

E assim conseguiram resolver o problema da praga. Com o passar do tempo, porém, os atenienses se esqueceram da misericórdia que o “Deus desconhecido” lhes concedera, negligenciando seus altares e voltando a adorar as centenas de deuses que se mostraram incapazes de remover aquela maldição da cidade. Os altares ao “Deus desconhecido” foram se deteriorando, mas, um dia, os anciãos resolveram revitalizar um deles, em memória àquele feito. Foi esse altar que Paulo encontrou ainda bem conservado em Atenas.

Entendendo o problema da idolatria

Sempre que falamos de restaurar o altar, lidamos com questões relacionadas à idolatria. Uma vez que os homens rejeitam ao único Deus, eles finalmente descobrem que é necessário um número infinito de divindades inferiores para preencher o espaço deixado pelo Deus verdadeiro. Quando Paulo viu Atenas rebaixada à adoração de figuras de madeira e pedra, o horror tomou conta dele![3]

A idolatria é muito mais que um ídolo em si, ela está relacionada ao que aquele ídolo promete oferecer, que, aos olhos de uma pessoa é importante para que ela sinta-se feliz. Na visão de uma pessoa idólatra “deus” existe para fazê-la feliz. Então, qualquer coisa que a pessoa assume como motivo de sua felicidade é um ídolo, e, por isso, na idolatria devem existir tantos ídolos para trazer felicidade no amor, no dinheiro, no poder etc.

Um filho, por exemplo, pode tornar-se um ídolo, quando alguém busca sua felicidade nele e não no Senhor. Um emprego pode tornar-se um ídolo, assim como um bem durável, uma busca incessante por beleza física, um casamento, ou qualquer outra coisa que assuma o lugar de Deus. O pior é que o idólatra se torna como seu ídolo (Salmos 115:8), ele perde suas funções vitais, porque vive exclusivamente para aquilo que adora acima de Deus.

Somos tentados à idolatria

Veja, então, que, é perfeitamente possível que alguém, sendo cristão, possa se ver intentado a fazer de DEUS um “deus utilitário”, que sirva para lhe oferecer exclusivamente os seus objetos de felicidade. Consideremos, então, algumas questões:

Será que estamos dispostos a viver em consonância à vontade de Deus, que, em última análise enaltece à Sua Glória? Somos os crentes que fazemos aquela oração de Jesus “Pai, seja feita a tua vontade”? Ou queremos o que queremos e estamos dispostos a pecar para conseguir ou pecar se não conseguir? Somos cristãos genuínos, que adoramos ao “Deus Desconhecido”, ou fracionamos a nossa fé em “divindades inferiores” que devem produzir a fonte da nossa felicidade?

Assim sendo, qualquer cristão que intente enaltecer-se por não ser devoto de ídolos (feitos de madeira, pedras ou materiais nobres), deve investigar, no fundo de seu coração se, verdadeiramente, não possui um ídolo interior, e, se for o caso, pedir perdão para Deus e abandonar tal prática.

De onde vêm a influência da idolatria?

Não sei aonde esse texto pode chegar, mas, posso inferir que aonde você reside não exista um porto como o de Pireu, o maior Porto de passageiros da Europa, de onde surgiam influências de crenças de todos os povos, contudo, afirmo que temos um Porto muito mais influente: o Porto da Mídia.

Dele vêm a força influente capaz de modificar a nossa visão sobre crenças e valores, que podem nos afastar do único Deus, para aproximar de “divindades menores”, que insistem em se internalizarem no coração, modificando, entre outros, o linguajar, a forma de consumo, de uso da moda, os valores sobre a sexualidade, do uso correto do dinheiro, da busca pela hall da fama etc.

Removendo a idolatria e restaurando o Altar ao Único Deus

Alguns anciãos, da época da praga em Atenas, lembraram-se do que o Deus apresentado por Epimênides havia feito pela cidade, e resolveram restaurar e preservar pelo menos um Altar “Ao Deus Desconhecido”, e que, séculos mais tarde, foi apontado pelo apóstolo Paulo como o “Deus de sua Pregação”.

Baseado nesta pregação, proponho a você, leitor, algumas considerações que podemos usar como “medidor” de nossa adoração ao único e verdadeiro Deus:

1)   Contentando-se com tudo o que Deus nos deu

O Deus que fez o mundo e tudo que nele há, sendo Senhor do céu e da terra, não habita em templos feitos por mãos de homens; Nem tampouco é servido por mãos de homens, como que necessitando de alguma coisa; pois ele mesmo é quem dá a todos a vida, e a respiração, e todas as coisas; Atos 17:24,25

Baseado nesta primeira afirmação, concluímos que o verdadeiro adorador, aquele que edificou um Altar ao único Deus, dentro do seu coração, é uma pessoa contente com o que possui, ele não é tomado de inveja pela prosperidade alheia (Salmos 73:3) e esse adorador sabe que tudo o que ele possui (a vida, a respiração e todas as coisas) é proveniente da bondade de Deus, é o suficiente e o necessário para que ele Glorifique Sua Majestade.

2)   Vivendo, existindo e se movemos por Ele

E de um só sangue fez toda a geração dos homens, para habitar sobre toda a face da terra, determinando os tempos já dantes ordenados, e os limites da sua habitação; Para que buscassem ao Senhor, se porventura, tateando, o pudessem achar; ainda que não está longe de cada um de nós; Porque nele vivemos, e nos movemos, e existimos; como também alguns dos vossos poetas disseram: Pois somos também sua geração. Sendo nós, pois, geração de Deus, não havemos de cuidar que a divindade seja semelhante ao ouro, ou à prata, ou à pedra esculpida por artifício e imaginação dos homens. Atos 17:26-29;

A segunda coisa é que o verdadeiro adorador sabe que viverá um tempo já determinado por Deus e dentro de um limite de espaço dado por Ele; Dentro deste limite de tempo e espaço esse crente busca a Deus, vive, se move e existe por Ele. O crente sabe que pertence a uma geração e não perde de vista as promessas que a envolve, não permite que os meios sociais influenciem seu linguajar, seu estilo de vida, seus valores e crenças. Ele é separado. Ele é santo.

3)   Conservando o selo da promessa da ressurreição

Mas Deus, não tendo em conta os tempos da ignorância, anuncia agora a todos os homens, e em todo o lugar, que se arrependam; Porquanto tem determinado um dia em que com justiça há de julgar o mundo, por meio do homem que destinou; e disso deu certeza a todos, ressuscitando-o dentre os mortos. Atos 17:30,31;

Por fim, o crente que tem o seu Altar edificado “Ao Deus Desconhecido” considera que foi alcançado pela misericórdia de Deus, por meio da pregação do evangelho, e da ação de convencimento do Espírito Santo, sabe que foi perdoado, e será ressuscitado e julgado no tribunal de Cristo (2 Coríntios 5:10), por isso, procura viver diligentemente, apresentando obras dignas da fé que professa, tendo em vista, dentre outros motivos, os galardões que o espera.

Considerações finais

Possivelmente, estamos vivendo um flagelo muito similar ao dos atenienses, as autoridades, mesmo em posse de maiores recursos, já deram sinais de suas limitações; pessoas de todas as classes socioeconômicas foram atingidas, independente de idade e condições físicas, e essa situação nivelou a todos conscientemente à sua verdadeira condição: a humana (dependente da misericórdia de Deus).

Muitas pessoas que estavam dispersas dentro da igreja, ou afastadas do caminho do Senhor, agora reconsideram suas escolhas e pensam em ser mais crentes ou voltar ao evangelho. Outros, de coração endurecidos e insensíveis à pregação, estão quebrantados e certamente, estamos diante de uma crise evangelizadora, que ecoa num mundo perplexo, abalado e sem respostas, e, por isso mesmo, mais sensível à voz do Espírito Santo, e às boas novas do Evangelho.

Que possamos, nesta crise, repensar nossos valores e crenças e limpá-los de toda contaminação da influência externa. Que possamos nos aproximar mais de Deus, restaurando o altar em nosso coração, que lembre os princípios de nosso primeiro amor, conservando-nos um sentimento de contentamento, de viver para a glória de Deus, e de boas obras tendo em vista a ressurreição e o julgamento que receberemos no tribunal de Cristo.

Maranata!

Pr. Marcelo Davila

1ª Igreja Unida de Inácio Monteiro

www.unidainaciomonteiro.com

Fontes de apoio:

Atenas. Wikipédia, a enciclopédia livre. Link https://pt.wikipedia.org/wiki/Atenas. Acesso em 22/05/2020.

Conferência de Treinamento em Aconselhamento bíblico. Módulo 1. Capítulo: Entendendo o coração. Santo André: ABCB - Associação Brasileira de Conselheiros Bíblicos & Faith, 2016. Link: https://abcb.org.br/evento/2a-conferencia-em-aconselhamento-biblico-abc-paulista-sp/.

Epimênides. Wikipédia, a enciclopédia livre. Link https://pt.wikipedia.org/wiki/epimênides. Acesso em 22/05/2020.

RICHARDSON, Don. Fator Melquisedeque, O: O testemunho de Deus nas culturas por todo o mundo. São Paulo: Editora Vida Nova, 1995

SGARBI, Luciana. A Praga de Atenas. Revista Isto É. Artigo eletrônico publicado em21/01/09, 10h. Link https://istoe.com.br/5565_A+PRAGA+DE+ATENAS/. Acesso em 22/05/2020.

Textos bíblicos compilados da https://www.bibliaonline.com.br/.


[1] Revista Isto É.

[2] Livro “O fator Melquisedeque”

[3] Ibdem, Livro “O fator Melquisedeque”;

MARCELO DAVILA

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